MESMO COM APOIO DE ATIVISTAS NEGROS A CIRO, MP MANDA AVERIGUAR SE HOUVE INJÚRIA RACIAL CONTRA VEREADOR CHAMADO DECAPITÃO DO MATO

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O Ministério Público de São Paulo solicitou na última quinta-feira a instauração de inquérito policial contra o presidenciável Ciro Gomes (PDT) para apurar o crime de injúria racial. O caso vem após o ex-governador do Ceará se referir ao vereador paulista Fernando Holiday (DEM-SP) por “capitãozinho do mato” em uma entrevista de junho. A frase segundo o vereador paulista seria “racista”. Por conta disso, o membro do MBL ingressou também com uma ação civil na Justiça de São Paulo. A defesa de Holiday pede indenização de R$ 38 mil.

“Capitão do Mato” eram chamados os negros aforriados, ou ainda escravos, que em troca de benefícios, como a própria liberdade, assumiam o papel de vigiar os outros escravos, inclusive punindo-os. Cabia ainda aos Capitães do Mato perseguir e recuperar para os “proprietários” os “negros fujões”. Sendo, inclusive, responsáveis pela destruição de muitos quilombolas e da desarticulação dos primeiros esforços de movimentos negros de resistência.

Os quilombolas ficaram caracterizados por se tornarem verdadeiras comunidades de negros escravos que fugiam de seus proprietários, para viver em liberdade na época colonial/imperial brasileira. Os capitães do mato, por sua vez, se tornaram símbolo de traição na luta das comunidades negras.

Na entrevista concedida à rádio “Jovem Pan”, o pré-candidato à Presidência falava sobre uma possível coligação com o DEM na disputa pelo Planalto em outubro. Ciro afirmou que Holiday é um negro “usado pelo preconceito para estigmatizar”.

— Esse Fernando Holiday é o capitãozinho do mato. A pior coisa que tem é um negro que é usado pelo preconceito para estigmatizar. Esse era o capitão do mato no passado — afirmou.

Essa acusação não é nova contra Holiday. Diversos movimentos de luta pelo direito dos negros pelo Brasil já tem acusado o vereador paulista de ser um “capitão do mato moderno”. Ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), Holiday é conhecido por posições polêmicas. Dentre elas, o vereador defende a revogação das cotas para negros em concursos públicos e já chegou até mesmo a propor a revogação do dia da consciência negra. Ele argumenta que a política cotista reforça o racismo e não ajuda os negros.

Para Holiday, boa parte das pautas dos movimentos negros seriam “vitimismo”, dando a entender inclusive, que racismo no Brasil seria uma falácia.

Após a declaração de Ciro, diversas entidades de apoio a luta dos negros saíram em defesa do candidato. Em vídeo, o ativista fluminense Luis Eduardo, conhecido como NegroGum, em defesa de Ciro Gomes, é contundente em afirmar: “é necessários desmascarar os verdadeiros racistas que tem tentando destruir as bandeiras do movimento negro!”.

Holiday, inconformado com a repercussão próCiro, afirmou em vídeo que Ciro Gomes é “uma figura arcaica, atrasada, que deveria estar ainda no século XIX, finalmente vai ter que lidar com a Justiça”. Na página do vereador, muitos internautas tem questionado se o vereador paulista não estaria usando de “vitimismo” para se defender, algo muito criticado por ele mesmo.

No início do mês, um levantamento do Núcleo de Dados do GLOBO nos portais dos Tribunais de Justiça do Ceará, do Distrito Federal, Rio de Janeiro e de São Paulo, além do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF), mostrou que há quase cem ações e recursos em andamento contra Ciro por calúnia, injúria, difamação ou pedidos de indenizações por danos morais envolvendo declarações do pedetista. Ao todo, 50 pessoas já processaram o presidenciável nos últimos 25 anos. A maioria políticos envolvidos em suspeita de escândalos de corrupção, dentre eles Temer, Cunha, Eunício de Oliveira, entre outros.

Para os eleitores de Ciro na rede, isso tem sido levantado, na verdade, como um motivo de orgulho e apreço pelo candidato. Para eles, a postura de Ciro exibe a disposição do presidenciável de enfrentar a corrupção.

 


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