O ESTADO DO CAOS: Com 5 meses de Intervenção, Rio piora seus índices.

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Quando foi anunciada uma Intervenção Federal no Rio de Janeiro, muitos se perguntaram por que o Estado havia sido escolhido, entre outros com semelhantes crises na área de segurança, ou até mais graves. Assim o Ceará (do qual tratamos aqui) e o Rio Grande Norte, por exemplo.

Não menor foi a surpresa, quando os agentes responsáveis pela medida, em sua primeira entrevista coletiva, revelaram sem constrangimentos que a Intervenção ainda não tinha planejamento estruturado, pronto, e que este seria elaborado ao longo da operação. Por fim, saem os relatórios estatísticos permitindo que tenhamos uma visão melhor dos resultados obtidos.

Segundo pesquisa do Observatório da Intervenção, do Cesec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes), divulgada nesta segunda-feira (16), o número de ocorrências violentas com ao menos três mortos subiu 86% no Rio de Janeiro durante o período de intervenção federal (entre fevereiro e julho deste ano).

Em 28 casos de “mortes múltiplas” registrados neste ano fez-se 119 vítimas –o número é 138% maior do que no mesmo período do ano passado. O dado do observatório foi obtido por meio do laboratório de dados Fogo Cruzado, a partir de notificações feitas via aplicativo, mas confirmadas com registros publicados na imprensa e divulgados pelas forças de segurança

O índice inclui todos os casos violentos que resultaram em três ou mais mortes, independentemente da motivação dos autores, nos cinco primeiros meses da intervenção, que tem previsão para terminar em dezembro. O dado inclui portanto mortos por criminosos e também em decorrência de confrontos com a polícia.

Reduziu-se também em números consideráveis, a quantidade de armas de fogo apreendidas.

Números do Instituto de Segurança Pública, ligado ao governo do Rio, mostram que a apreensão de fuzis, submetralhadoras e metralhadoras caiu nos três meses completos após o início da intervenção. Relatórios anteriores mostravam que a média de 2007 a 2016 era de 91,7 armas pesadas apreendidas no mesmo período.

Foram 92 dessas armas retiradas de circulação de março a maio deste ano, ante 145 no mesmo período do ano passado – uma redução de 37%. Considerando todos os tipos de armas, também houve queda de 5% (de 2.343 para 2.229).

Reduzir a quantidade de traficantes circulando armados pelas favelas é um dos objetivos a curto prazo da intervenção federal na segurança do Rio, segundo afirmou o interventor e general Walter Braga Netto em um evento na semana passada. “Temos que diminuir aquela ostensividade que estava existindo no Rio”, afirmou ele na ocasião.

Os fuzis – que são de uso restrito das forças de segurança e chegam a custar R$ 50 mil no mercado clandestino – são considerados um dos pesadelos no estado.

Eles representavam 3,3% de todas as armas apreendidas no Rio em 2014, o que é bastante alto. Para se ter uma ideia, em São Paulo a taxa era de 0,8%, segundo o levantamento mais recente disponível, do Instituto Sou da Paz.

Para pesquisadores da área, a queda nas apreensões de armas pesadas é preocupante, ainda mais num contexto de recrudescimento da disputa entre facções e num momento em que se esperava mais investimentos na atividade.

“Quando foi nomeado um general do Exército, achamos que isso seria resolvido, mas não vemos a retirada de armas sendo priorizada. E o plano estratégico da intervenção não tem nada previsto para melhorar isso”, afirmou Bruno Langeani, coordenador do Instituto Sou da Paz.

Pelo Estatuto do Desarmamento, o Exército é responsável por fiscalizar a produção e venda de armas de fogo no país. “Operações são importantes, mas descobrir onde essas armas estão sendo desviadas e fechar o foco do desvio é muito mais efetivo”, afirma Langeani.

Na avaliação da pesquisadora Silvia Ramos, da Universidade Cândido Mendes, não é o que tem sido feito.

“Os fuzis estão sendo retirados das ruas ao custo de tiroteios e mortes, inclusive de policiais. Vale a pena?”, questiona. “Contra as armas, precisamos de inteligência, e não de força cega”, afirma.

Essa discussão ficou ainda mais acalorada nesta semana no Rio, após uma operação da Polícia Civil com apoio do Exército no complexo de favelas da Maré, na zona norte, na quarta-feira (20).

Realizada inicialmente para cumprir 23 mandados de prisão, a ação terminou com sete mortos – incluindo um garoto de 14 anos que caminhava para a escola -, nenhum preso e quatro fuzis e outros itens apreendidos.

O menino foi atingido pelas costas, em meio ao tiroteio entre policiais e criminosos. A família chegou a acusar agentes policiais pelo disparo que atingiu o adolescente.
Para ambos os especialistas, a solução passa por um recurso que o Rio de Janeiro já possui: a Desarme, delegacia especializada criada em abril de 2017 para reprimir o comércio de armas e munições.

A unidade foi um dos fatores que fez disparar as apreensões no ano passado, usando inteligência e integração com a PF (Polícia Federal) e países fornecedores de armas, como os Estados Unidos.

“Isso mostra que investimento em segurança pública com foco, metas e planejamento tem efeitos rápidos. A pergunta é: que prioridade a intervenção está dando para a Desarme?”, afirma a pesquisadora Silvia Ramos.

 

Informações de “Bem Paraná” e “UOL Notícias”.

Imagem de “Boletim da Liberdade”


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