PRIVATIZAR ELETROBRAS? NEM A PAU”, DIZ CIRO

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Em entrevista, Ciro fala de pontos de seu projeto para o país, reafirmando a contrariedade a privatização da ELETROBRAS.

Com informações Valor

SÃO PAULO  –  (Atualizada às 17h45) O presidenciável Ciro Gomes (PDT) afirmou nesta terça-feira que “nem a pau” pretende privatizar a Eletrobras. Em entrevista ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, o pré-candidato criticou o governo Michel Temer por negociar a venda da estatal pelo valor de “sete churrascarias Fogo de Chão” e disse que, se eleito, pretende pagar a dívida da empresa. O Valor publicou entrevistas com outros pré-candidatos, como Guilherme BoulosGeraldo AlckminHenique MeirellesRodrigo Maia e Álvaro Dias.

Ciro afirmou ainda que “nenhum país do mundo” entrega seu regime de água ao capital estrangeiro.

“Privatizar a Eletrobras? Nem a pau!”, disse. “É tudo pretexto para entregar… Sabe quanto esses caras botaram o preço da Eletrobras? Sete churrascarias Fogo de Chão”, afirmou Ciro. “Nenhum país do mundo entrega seu regime de água à gestão do regime do capital estrangeiro. Nenhum”, disse o pré-candidato, comparando novamente o valor da venda estimada pelo governo ao da churrascaria.

No início do ano, a churrascaria Fogo de Chão foi comprada por US$ 560 milhões pelo fundo de investimentos americano Rhône Capital. O valor atualizado corresponde a R$ 2,094 bilhões. Já o governo Temer pretende arrecadar com a venda da Eletrobras R$ 12,2 bilhões, o equivalente a 5,8 churrascarias.

Ao justificar suas críticas à venda da Eletrobras, Ciro disse que no Brasil privatizar é sinônimo de internacionalizar.

“Privatizar no Brasil, ao contrário dos manuais do mundo, significa concretamente, dada a precariedade da formação bruta de capital local, internacionalizar. Portanto estaríamos internacionalizando um “non-tradable”. 230 usinas hidráulicas non-tradables. Como é que vamos pagar a internacionalização, o passivo externo líquido de non-tradable?”, disse. “Privatização significa que água e energia é a mesma coisa. Se eu privatizo, não posso invadir o ativo do cara para vender”.

Ciro afirmou que a dívida da Eletrobras deve ser paga e criticou a indexação da tarifa de energia ao IGP-M. O passivo da empresa é estimado em cerca de R$ 15 bilhões e refere-se a uma dívida relativa à correção de empréstimos compulsórios realizados junto a grandes empresas do setor privado nos anos 70 e 80, para viabilizar a expansão da estatal no país. “Como é que a matriz energética mais limpa e barata do mundo, com 90% das suas estruturas já amortizadas, cobra a tarifa mais cara do planeta? Quer a explicação? Fernando Henrique Cardoso, para privatizar, criou um índice IGP-M que é absolutamente sensível ao câmbio. Indexamos todas as tarifas públicas brasileiras a ele.”

A Eletrobras é formada por centenas de empresas que atuam em todas as três fases da cadeia produtiva do setor de energia elétrica. São 233 usinas de geração de energia, incluindo Furnas e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), além de seis distribuidoras, todas na região Norte e Nordeste, e 61 mil quilômetros de linhas de transmissão, metade do total do país.

Partidos

Ciro afirmou que o PSDB transformou-se em um partido de direita e é o novo MDB. Ex-tucano, Ciro disse que o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, cometeu um “erro mortal” ao aliar-se ao Centrão sem impor restrições e ao dar organicidade a esse grupo político. O pré-candidato do PDT, porém, também negociou apoio com o blocão para esta eleição. Ele afirmou que ainda busca um acordo com o PSB.

Ao falar sobre o PSDB, Ciro disse que o partido ao qual já foi filiado transformou-se “organicamente em um partido de direita, completamente entreguista”. “[Está] entregue ao financismo, ao rentismo, e é cínico em relação à sorte do povo. Até ressalvo o Alckmin, que é um pouco diferente dessa média. À medida em que entra nessa agenda de golpe, de reformas anti-povo, anti-pobre, que privilegia a fisiologia, ele vira o MDB. Ele é o novo MDB”, afirmou.

O presidenciável do PDT tentou minimizar o fracasso da negociação com o Centrão, bloco que reúne DEM, PP, SD e PRB, e disse que esse grupo não tem organicidade. “O único cimento do Centrão é tentar imitar o MDB, pressionando juntos para dividir o butim separados. Aí está a chave, a inteligência de um possível entendimento com eles. Você jamais deveria dar a eles, como já disse em relação ao velho MDB do passado, organicidade. Alckmin comete erro mortal nesse passo”, afirmou Ciro.

O pré-candidato disse ainda que nunca cogitou ter o Centrão ao seu lado e afirmou que “é natural” que o bloco fique do lado que sempre esteve, na centro-direita.

Segundo o pré-candidato, o ideal na negociação com o blocão é negociar com cada um dos partidos e não com os cinco juntos. “Alckmin não relativizou nada, não discutiu um programa uma indicação de rumo, absolutamente nada”, disse. “O problema é dele. Eu tentei impor a eles uma regra na minha conversa”.

Questionado sobre o pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ), Ciro disse que seu adversário “interpreta um personagem” e “teve muita habilidade em identificar uma repulsa” da sociedade à política tradicional, mas pondera que Bolsonaro não tem organicidade no Congresso. “O cara é deputado há 28 anos e não agrega nada, não agrega ninguém. Fui colega dele. Ele entra e sai e ninguém fala com ele.”

Para Ciro, só a exposição de Bolsonaro, com suas ideias polêmicas, é que poderá ajudar a desidratá-lo nas pesquisas de intenção de voto.

Previdência

O pedetista ponderou que, se eleito, o teto da Previdência dependerá de sua força política no Congresso. A previsão é que o teto varie entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. Ciro criticou o atual modelo previdenciário e afirmou que pretende implementar o regime de capitalização, mas negou-se falar sobre o custo da transição entre os dois sistemas.

“O custo de transição depende. Se eu conseguir politicamente uma força grande, eu estabeleço um teto de R$ 3 mil. Se conseguir força intermediária, teto de R$ 4 mil. Se não conseguir nada, fico no de R$ 5 mil. Lá se vão três custos de transição distintos. Mas são praticáveis”.

Ciro disse que sua equipe trabalha com uma premissa para a Previdência. “A premissa é: irretroatividade para aferir direito adquirido. Porque capital político jogado nisso é só desperdício”, afirmou. “Os privilégios são da magistratura, do Ministério Público, e quem julga qualquer lei sobre o que retroage são eles. E eles já chegaram ao paradoxismo de julgar Emenda à Constituição inconstitucional. Então premissa única: vamos fazer daqui para frente. Não tem jeito.”

Ao explicar quais serão os pilares de sua proposta, disse que pretende segregar o orçamento da Previdência para “dar transparência absoluta todos os benefícios de não contribuintes”, como os dez milhões de trabalhadores rurais. “Todo mundo que não contribuiu vai ser agora objeto de uma renda mínima cidadã custeado pelo tesouro Nacional com transparência absoluta. Na prática já é assim, só que está mascarando deformando a compreensão do problema da Previdência. Isso vai mudando a variável do custo de transição”, afirmou.

Segundo o pré-candidato, o país precisa de outro sistema previdenciário. “O modelo que o mundo inteiro civilizado pratica é o da capitalização. A diferença prática é que na repartição a geração contemporânea financia a aposentadoria da geração que passou. Isso só funciona com fração pequena de muitos para pagar poucos.”

Campanha

Ciro aposta em um cenário eleitoral incerto para o primeiro turno, com cinco candidatos empatados no primeiro turno. “Vou fazer uma profecia. Acho que a campanha tende a um grande empate ao redor de 14% com margem de erro de três [pontos percentuais].” Na avaliação do presidenciável, ele estará com o mesmo patamar de intenção de votos de Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL) e o eventual candidato a ser indicado pelo PT, se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula não puder disputar a eleição presidencial.

Ciro diz fazer a seguinte leitura do cenário eleitoral: “Bolsonaro sombreando Alckmin, Marina no meio sem saber que tipo de evolução vai ter, Lula me sombreando”.

Na definição de quem irá para o segundo turno, Ciro aponta a desvantagem de Alckmin de ser associado ao governo Michel Temer, apesar de o PSDB ter forte estrutura partidária no país. Sobre Bolsonaro, líder nas pesquisas de intenção de voto sem o ex-presidente Lula, diz que seu adversário tende a desidratar à medida em que expuser suas ideias.

Sobre Marina, Ciro diz que a pré-candidata tem recall das duas outras eleições presidenciais, mas não tem estrutura partidária nem tempo de televisão. Porém destaca que o arquétipo da pré-candidata do Rede é melhor do que o seu porque não tem “aresta”. “Ela não tem aresta, por isso não ganha. Quem ganha tem aresta”. Questionado sobre o ex-prefeito Fernando Haddad, cotado como plano B do PT, diz que o petista é um “mistério”.


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