O SUCESSO DE BOLSONARO E A BOLHA PROGRESSISTA

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Os comentários na bolha da rede social demonstram o horror dos amigos – em sua maioria, intitulados “progressistas” politicamente – com o candidato Jair Bolsonaro. Vejo, diariamente, demonstrações de tal espanto, manifestado por vezes em compartilhamentos das falas do próprio candidato, em outras por textos analíticos que buscam apontar a melhor forma de enfrentá-lo. O fato é que ninguém sabe ainda como lidar com ele, como fragilizá-lo de fato – e talvez isso se siga até o fim da eleição, e ele seja eleito. E o espanto continuará. Como ocorreu e ocorre com Trump nos EUA.

Não assisti ao Roda Viva de ontem com o candidato (já estava dormindo), apenas acompanhei por alto a repercussão na minha bolha virtual e em meia dúzia de manchetes. Porém, já acompanho seu discurso há algum tempo, inclusive dedicando minutos para assistir ou ler o que ele fala. Não sei se já perceberam, mas o fato é que, para além do discurso moralmente incompreensível para todos nós (no qual me incluo), Bolsonaro é um personagem consideravelmente carismático. Faz piadas, busca contornar o despreparo mostrando humildade. Sabe se aproximar do seu eleitor. Na política em si, ele não é um aventureiro – sabe o que faz. O que talvez não fique visível para nós, que não compreendemos o seu discurso. E passamos a não compreender o porquê de tantas pessoas votarem nele. É como se, frente ao que consideramos como obscurantismo, ficássemos com a visão também neblinada e não conseguíssemos mais enxergar certas coisas.

Tenho, também, na rede social, alguns poucos amigos que sei que apoiam ou votam em Bolsonaro, o que demonstra o quanto estamos distantes da realidade – afinal, pelo que é nítido nas pesquisas, Bolsonaro é maioria, e não minoria. Julgar o seu eleitor como “fascista” e seguidor da cartilha mais demoníaca do mundo é um erro, não só estratégico, mas um erro de fato, pois não o são. Julgar como burro é também um baita pecado da arrogância. Talvez o mais caminho mais correto – só que mais difícil! – seja entender o porquê de votarem em Bolsonaro, buscando entender em quais suscetibilidades ele toca, o que de positivo ele pode evocar, ainda que ilusoriamente, para alguns. E sair do clichê de que os que o seguem são iguais a ele – pois ninguém é igual a ninguém e o mundo não é tão “preto no branco” assim.

Alguns comentários da minha bolha virtual afirmaram que Bolsonaro se saiu um desastre no Roda Viva. Não é a primeira vez que vejo tais comentários e, no entanto, o candidato continua destacado nas pesquisas. Talvez o melhor comentário que vi seja o de que, no fim das contas, “Bolsonaro falou para o seu eleitor”, usando os mesmos chavões de sempre, as frases de efeito, pegando carona no tempo dos “memes” da era virtual. Lamento dizer que não é só ele que explora esses caminhos fáceis – vejo com infelicidade que o mesmo é feito pela dita “esquerda”, inclusive espalhando inverdades e desonestidades. Na era dos “memes”, não se sai da superfície – apenas se reforça aquilo que as pessoas já estavam predispostas a pensar.

E assim acontece com o movimento (que “ninguém entende”) de pessoas que votam em Bolsonaro. A ideia do “lacre” – termo que detesto – é exatamente essa: o não aprofundamento do debate, o encerramento da discussão pela arrogância (que, no fundo, é a outra face da ignorância).

Ninguém sabe ainda como lidar devidamente com toda essa confusão da chamada “pós-verdade”, das redes sociais e dos tempos contemporâneos. Mas o fato é que não sairemos desse caos com “memes”, “lacres”, rótulos, reducionismos, desonestidade intelectual. Precisamos de debates aprofundados sobre o que de fato queremos para nós mesmos, enquanto sociedade.

Leo Lupi


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