CALAZANS: Menos Ideologia para Mais Médicos

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No último mês, o Brasil foi atravessado por um intenso debate sobre a retirada dos médicos cubanos do país, uma discussão me parece ter chegado em todos níveis da população. Eu estava trocando o pneu do carro em uma borracharia na frente do trabalho, quando o borracheiro iniciou o seguinte diálogo:

“O senhor viu a saída dos cubanos? Agora vocês poderão trabalhar em paz aqui.”

Respondi amenidades e me interessei em conhecer um pouco mais a sua compreensão sobre o assunto.

“Doutor, eu até acho que os médicos cubanos estavam trabalhando decentemente, inclusive tinha um lá na Maré [Região Norte da cidade do Rio de Janeiro] onde eu moro, mas é inadmissível que o Brasil pague a ditadura cubana pra manter eles como escravos aqui!”

Perguntei a ele como ficarão as coisas lá na Maré sem o atendimento do cubano.

“Tenho certeza que os colegas do senhor vão ocupar lá, o senhor iria né?”

.A resposta a essa pergunta que ele me fez é muito mais pragmática e menos ideológica na vida real. Independente do médico ter um pensamento ideológico mais a “esquerda” ou a “direita”, o fato da Maré, região onde o borracheiro mora, ser uma das mais violentas da cidade vai ter um impacto muito grande nessa resposta. Se somar o baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)e rede desestruturada e as dificuldades atuais na prefeitura do Rio de Janeiro acho que os moradores da Maré terão saudades de falar um bom “portunhol”.

Para sair dessa falsa dicotomia proponho avaliarmos o Programa Mais Médicos para o Brasil de forma mais pragmática e menos ideológica. Isto nos permitiria visualizar os avanços em se alcançar 25 milhões de pessoas “escondidas” pelo Brasil e da tentativa de estruturação de uma grande residência de Medicina da Família( especialista fundamental pensando em uma reforma profunda na atenção primária do SUS).

O pragmatismo também nos ajudaria a observar que um país do tamanho do Brasil não pode ficar num grau de dependência em relação a outro país, sendo Cuba ou qualquer outro. E aprofundarmos a questão dos pagamentos dos médicos cubanos, onde 70% ficava com o governo de Cuba e as dificuldades operacionais em várias cidades que recebiam o médico, mas não davam a contrapartida estrutural esperada.

Tanto o comportamento do presidente eleito Jair Bolsonaro – chamando os médicos cubanos de açougueiros e estimulando sua deserção – quanto a atitude do governo Cubano de retirar os médicos emergencialmente, mostra que ambos estão sendo ideológicos. O cerne do problema reside no fato de que essa situação pode custar vidas de muitas pessoas, brasileiros que estão tentando sobreviver na dureza da vida real. Meu amigo borracheiro, encantado pelos vídeos de Wathsapp e correntes do Facebook, será chamado à realidade no próximo episódio de adoecimento do filho.

A resposta a problemas complexos deve passar por uma cuidadosa análise de dados, buscando referências e fugindo do improviso. Como responder à pergunta feita pelo meu amigo borracheiro e os outros 25 milhões brasileiros sem atendimentos? Me parece que a resposta passa por uma Forte “Ideologia” Pragmática..

Marcelo Calazans – Médico / Professor

Com Informações Saiba Mais.jor


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