Opinião: Bolsonaro e a Nova Era de 2019

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“Se pudéssemos vislumbrar como seria o início de 2019 numa TV mágica ou altamente tecnológica, talvez, pelo incomodo de assistirmos tantas desgraças sucessivas, pensaríamos duas vezes nas eleições de 2018 de entregar o comando do país nas mãos de um sujeito cuja a premissa é curar o caos com caos, curar violência com armas, sanear falta de moradia acabando com políticas públicas de habitação, ou privilegiar empresários que derrubam barragens.

Mas não temos esse poder ou tecnologia para vermos adiante como será tal governo, apenas investimos nosso pragmatismo ou fé naquilo que a maioria decidir democraticamente.

Mas com tantas coisas ruins acontecendo de modo tão abrupto, sem dar tempo do cadáver esfriar ou se incinerar, algo adiante ocorre, de modo tão aterrorizante ou maléfico ao anterior, que não dá tempo de associarmos a conjuntura de todo esse terror ao fato de estarmos vivendo a descrita “Nova Era” do Brasil Acima de tudo, Deus Acima de Todos.


Apostas altas em mudanças drásticas não está relacionada ao modo Easy (Fácil) de que tudo mediante a “Fé” acabará bem.

Janeiro e Fevereiro vem nos mostrando isso de forma calamitosa, a dita “Nova Era” veio para nos mostrar que barragens caem quando um governo fraco não impõe sua mão fiscalizadora, ou que casas podem ser tragadas pela água que desce dos morros quando prefeituras cortam verbas de estrutura das periferias verticais em tempos de chuva, ou que garotos podem ser imolados quando amontoados em containers que deveriam ser apenas containers e não dormitórios de clubes ricos.

Não existe êxito de apostas altas em mudanças drásticas se você não tiver alguém na liderança que possa garantir que tudo acabará bem.

De maneira alguma quero associar as catástrofes que estão assombrando o Brasil ao governo que aí está no poder, pois para tanto, poderia ser o meu candidato que digitei na Urna no primeiro turno, ou o seu candidato contrário a este que aí está ,que você depositou seu voto de protesto no segundo turno, ou qualquer outro governo eleito, que tais tragédias poderiam acontecer. MAS tem um porém nisso tudo. Esse governo eleito além de estar amarrado a denúncias de Laranjas e corrupção, de Ministros totalmente incompatíveis com seus cargos que deixa a discussão do Brasil real para segundo plano, além de tudo isso, esse governo que aí está é um gerador de catástrofes futuras e de pequenas tragédias que já estão acontecendo.

É um governo que quer enxugar o estado de seus compromissos vitais, um governo que abraça a ideia firme de diminuir o estado seja na educação, saúde, habitação, na redução de infraestruturas básicas, que poderão a curto prazo colaborar com mais tragédias por conta desta ideia de Estado Mínimo, Capital Privado Máximo.

A barragem de Brumadinho, os barracos arrastados pelas tempestades e dormitórios em chamas não são apenas um recado, é uma comprovação que o Estado Brasileiro está diante de tudo o que ele não fez e vai deixar de fazer pois ele quer ser o menor dos males dentro da sociedade para se tornar mais um protagonista atônico. Esse Estado representado pela figura de Jair e seu Laranjal é o retrato fiel de que o Estado agora tem um representante a altura; invisível, incompetente e hipócrita. Um Estado que a única competência que tem é de manter seu arsenal sempre cheio para que seus agentes de segurança cumpram o papel de “higienizar” o Brasil dos que estão fora da classificação de “Cidadão de Bem” ou da cartela pantone de cor de quem poderá portar um guarda-chuva sem ser confundido com um fuzil.

A imagem do garoto sendo sufocado no mercado Extra no Rio pelo segurança é a melhor definição deste governo, pois é esta eficiência contra a violência que a sociedade de “Bem” queria, punição imediata desde que não seja contra um cachorro ou gato.

Os ventos que estão empurrando nosso navio nestes próximos quatro anos trazem também o odor da lama tóxica, do sangue e da fuligem de Janeiro e Fevereiro, nos condicionando a tenebrosa incógnita de quais outros males irão nos assolar nos próximos meses ou pela cadência catastrófica, nos próximos dias.

Miseravelmente ficamos mais pobres intelectualmente neste cenário de caos, pois no meio de tudo isso perdemos a voz e competência de Ricardo Boechat, que apesar de algumas discordâncias, era um dos poucos que ainda compreendia de forma sóbria as necessidades do Brasil, e que infelizmente foi tragado pela nebulosidade que paira sobre nós em forma de tragédias quase semanais.

Eu queria do fundo do meu coração vislumbrar algo de bom no horizonte, mas não consigo.

Já tivemos dias melhores na nossa juventude.

Ismael Alleycat
Roterista e Designer


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