As muitas contradições do ministro Weintraub – parte 1

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado.
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Na última terça-feira, dia 7/5/2019, o ministro Abraham Weintraub, do Ministério da Educação, esteve na Comissão de Educação, Esporte e Cultura, do Senado Federal e, durante quase 5 horas, expôs suas ideias e respondeu perguntas dos parlamentares. Foi tanto assunto que vamos publicar uma série de textos para dar conta de tudo. Este é o primeiro.

Uma coisa que chama a atenção é a duplicidade — para não dizer canalhice — do seu discurso: a forma como ele afirma categoricamente ideias contraditórias como se houvesse coerência entre elas. Um exemplo é ele, ao mesmo tempo, defender políticas baseadas em evidências e cortar investimentos em pesquisa nas áreas que justamente produzem a maior parte das evidências sobre educação: as ciências humanas. Destacamos, nesse texto, sua fala sobre alfabetização, em que essa duplicidade fica evidente.

A alfabetização foi destacada como uma prioridade para o governo Bolsonaro. A única dentro do MEC dentre as 35 metas estabelecidas para os 100 primeiros dias de mandato. Ela estabelecia “lançamento de um programa nacional de definição de soluções didáticas e pedagógicas para alfabetização, com a proposição de método para redução do analfabetismo a partir de evidências científicas”. Para avançar nesse sentido, foi criada uma Secretaria de Alfabetização dentro do MEC, e mais tarde, publicado o decreto 9.765/2019 que institui a Política Nacional de Alfabetização.

O próprio decreto afirma, como um princípio da Política Nacional de Alfabetização, a “fundamentação de programas e ações em evidências provenientes das ciências cognitivas”, um termo utilizado para agrupar diversas áreas de saber que investigam as diferentes formas como apreendemos, armazenamos, processamos e sistematizamos informações. De acordo com o site Infoescola, “as principais disciplinas que compõem as ciências cognitivas são: a psicologia cognitiva, a lingüística, e a inteligência artificial, e parcialmente a filosofia, a neurobiologia, a lógica e a antropologia.” Como anda o financiamento das pesquisas nessas áreas?

Temos, no Brasil, inúmeros cientistas dessas áreas dedicados ao estudo da alfabetização. Não seria razoável que algum deles fosse nomeado secretário da nova secretaria? Algum deles foi ao menos consultado no desenho dessa política?

O que sabemos é que, à frente da pasta, está Carlos Francisco de Paula Nadalim, que não tem nenhuma publicação científica na área ou participou de qualquer debate sobre gestão de educação nos últimos anos. Seu grande mérito é ser blogueiro sobre como educar os filhos. Dentro da secretaria, no comando da Coordenação-Geral de Formação de Professores, temos Maria Eduarda Manso Mostaço, uma bacharel em direito cujo currículo em educação se limita a uma monografia que defende a educação domiciliar como solução para os desafios educacionais do país.

Sabemos, ainda, que o ministro optou por modificar a metodologia da avaliação de alfabetização, o que compromete a série histórica e impossibilita a comparação com as avaliações anteriores. Como fica, então, o embasamento científico? Como podemos avaliar a efetividade da nova política?

É inevitável chegar à conclusão de que há um abismo entre o discurso e as práticas do Ministério. Podemos até concordar com certas falas do ministro — por exemplo a de que a alfabetização é fundamental –, mas temos de enxergar que tipo de atitudes essas falas não concretizadas estão acobertando. Temos que estar atentos às canalhices por baixo de cada discurso.

Nos próximos textos, analisaremos suas falas sobre ensino técnico e mercado de trabalho, a relação entre escola e famílias, universidades e outros pontos.


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