Argentinos rejeitam Direita Liberal de Macri em Primárias. Centro-Esquerda Peronista prestes a voltar ao Poder.

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O peronista Alberto Fernández, que concorre à presidência da Argentina com a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner em sua chapa como vice, ganhou as eleições primárias neste domingo. Com quase 90% das urnas apuradas, Fernández vencia por 47% dos votos, enquanto que o presidente Mauricio Macri levava 32% da preferência. O primeiro turno das eleições gerais está marcado para 27 de outubro.

Macri reconheceu a derrota: “Hoje tivemos uma eleição ruim”. Caso esses resultados se repitam nas eleições, Fernández será o novo presidente argentino. De acordo com a reforma constitucional de 1995, caso algum candidato consiga 45% dos votos ou 40% dos votos com 10 pontos de vantagem sobre o segundo lugar, não há necessidade de segundo turno. “Estamos contentes, alegres e otimistas que muitos argentinos compreendam que as coisas devem mudar na República Argentina”, disse Kirchner em mensagem gravada em vídeo.

“Estas eleições definem os próximos 30 anos”, chegou a dizer Macri horas antes, no momento de votar. Quiçá não tantos anos e não nas primárias, que, por falta de concorrência interna nos partidos, se converteram em um simples ensaio geral das eleições de outubro, mas certamente este processo eleitoral representa uma grande transcendência para o futuro da Argentina. Duas opções muito diferentes e radicalmente opostas disputam o poder.

Crise social abala eleitores de Macri

O brusco aumento da inflação, agravada pela desvalorização de mais de 50% do peso este ano, castigou duramente as economias familiares. À espera de dados oficiais, que serão divulgados no final do mês, as organizações sociais e instituições acadêmicas advertem sobre o significativo aumento da pobreza em 2018. A situação dos lares mais vulneráveis piorou com a alta do preço dos alimentos (31% no último ano), do transporte (40%) e com a queda dos pequenos trabalhos informais, incluindo obras de reparação em moradias e tarefas de cuidados com os quais as pessoas complementam a renda oriunda dos planos sociais estatais.

Muitos desses trabalhos informais são encomendados pela classe média, que apertou o cinto ante o aumento de até 1.000% no preço da luz, do gás e da água em relação às tarifas hipersubsidiadas durante o kirchnerismo, e cujo poder aquisitivo diminuiu com reajustes salariais inferiores à inflação. “Os aumentos selvagens frustraram as expectativas. Teriam que ser feitos de forma progressiva”, diz Claudio Porpora, um sapateiro de 60 anos. Porpora também votou em Macri porque desejava uma mudança (“Não queríamos mais do mesmo).

Ambos os comerciantes achavam que a mudança de política econômica faria a Argentina decolar após quatro ou cinco anos de estancamento. Não foi assim. A chuva de investimentos prometida não chegou, e a inflação continua muito alta apesar da guinada à ortodoxia dada pelo Governo. “Ao longo do Governo de Macri, trabalhamos como na última época do Governo anterior. Depois de 2001, na época de Néstor (Kirchner), o negócio foi muito bem, mas a partir de 2010 a coisa caiu e não se recuperou mais”, diz Porpora. “Não é que o negócio tenha diminuído. Na verdade, nunca cresceu. Manteve-se igual. O que diminuiu foi a margem de lucro. Se você ganhava 500 com um custo de 100, hoje é 500 com um custo de 300”, diz Belfer. “Tento não perder vendas, buscar produtos novos, coisas relacionadas, promoções, bonificar o envio”, diz o dono da loja de colchões.


Fracasso de Macri e a Crise Argentina

Macri, um milionário ex-empresário, quis resolver os problemas herdados do governo de Cristina Kirchner – alta inflação e deficit fiscal – com um modelo liberal e de mercado.

De maneira gradual, cortou salários públicos, baixou impostos para exportações e aumentou as tarifas dos serviços subsidiados, entre outras medidas. Fez acordos para se endividar e expandir obras públicas.

Mas enquanto Macri queria fazer a Argentina “voltar ao mundo”, este estava em outro ritmo: protecionismo, aumento de juros nos Estados Unidos e um clima de tensão política e financeira.

O governo argentino fez muitas coisas para deter a queda do peso, que perdeu 50% do seu valor no último ano: investiu reservas, mexeu no gabinete, contraiu dívida, reestruturou a dívida local e subiu a taxa de juros a 60%, a mais alta do mundo.

Quando ficou claro que o plano de Macri estava esgotado e seria necessário recorrer ao FMI, um organismo que quase nunca rendeu boas experiências no país, o capital político de Macri já estava muito desgastado.

Ali, os mercados começavam a perguntar se o projeto, pensado inicialmente para duas décadas, duraria sequer quatro anos.

Agora, tanto a inflação quanto o deficit fiscal estão mais altos do que quando Macri chegou ao poder, em dezembro de 2015. E é quase certo que o país voltará à recessão.

Dentro de pouco tempo haverá eleições e muitos, sobretudo os mercados, se perguntam se, no meio desta crise econômica, o projeto liberal de Macri pode ser reeleito ou se o país voltará ao protecionismo do passado.

Com informações El Pais e BBC


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