O SURREALISMO FANÁTICO BRASILEIRO (PARTE 1)

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Em 1955, o romancista mexicano Juan Rulfo publicou o seu célebre livro Pedro Páramo, que conta a história de um homem que vai visitar o seu pai e ao longo do caminho vai encontrando diversas pessoas que conviveram com ele em sua antiga vila, até que em determinado momento da trama vai se dando conta de que estão todos mortos, inclusive ele mesmo. É considerada a obra seminal do realismo mágico ou realismo fantástico, que teve como expoentes como Gabriel Garcia Márquez, Isabel Allende, Julio Cortázar, Jorge Luis Borges, além de magistrais brasileiros, como José Jacinto Veiga, Luis Bustamante, Dias Gomes e Murilo Rubião, sendo que este último foi assessor de Juscelino Kubitschek. No Brasil de hoje, vivemos o período do surrealismo fanático, com uma briga de falsa oposição entre a esquerda e a direita liberais, que não encontra respaldo na realidade a partir de uma leitura do cenário geopolítico contemporâneo.

O que seria da esquerda brasileira hoje sem o Bolsonaro pra compensar a sua incapacidade de autocrítica? Este foi sem dúvida o motivo pelo qual deturparam o processo democrático e legitimaram seu mandato pela via eleitoral. E o que seria do bolsonarismo sem uma esquerda liberal e corrompida para sustentar as suas sandices? Afinal, toda a campanha foi baseada em antagonismo ao lulopetismo e suas franjas acessórias mais do que nas virtudes do tenente reformado como capitão para ser aposentado devido seus problemas mentais. Contudo, as tendências políticas mundiais nos demonstram que esta época de falsos antagonismos das democracias neoliberais está a cada dia mais próxima do fim.

Nos EUA, Donald Trump é acusado de ser um presidente de “extrema-direita”, contudo, governa com protecionismo econômico, taxas de juros zero nos bancos, reindustrialização do país, melhorou a condição de emprego e renda de seu povo e combate o sistema de governo paralelo instituído há muitas décadas por financistas e burocratas do Estado Profundo (Deep State). Além disso, no cenário geopolítico, estabeleceu diálogo com a Rússia, Coreia do Norte e construiu um acordo econômico bilateral com a China, sendo um dos principais responsáveis por livrar o mundo de uma hecatombe nuclear.

Muito diferente de seu antecessor “pacifista” Barack Obama que, junto de seu vice-presidente Joe Biden e de sua Secretária de Estado Killary Clinton, não hesitaram em adentrar em guerras covardes e genocidas que destruíram a Síria e o Afeganistão, perseguiram jornalistas e agentes de Estado, utilizando como porta-voz um límpido e ilibado jornalista conhecido dos brasileiros chamado Glenn Greenwald e seu veículo, o The Intercept, ao qual podemos imputar ainda os destinos trágicos acometidos à Julian Assange e Edward Snowden.

Podemos afirmar sem medo de recair em idiossincrasias que suas intervenções externas mais violentas, como o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani e o golpe de estado na Bolívia guardam mais relações com a atuação do Senado e o Deep State do que com qualquer ordem de comando direto de Trump, possivelmente atendendo interesses do Pentágono e dos financistas alemães na União Europeia, respectivamente.

E o que dizer da China e o fantasma do comunismo frequentemente alavancado pelos bolsonaristas fanáticos? Ela é de “esquerda”? Sem dúvida, os chineses assim como diversos povos asiáticos tem uma visão de mundo coletivista, contudo, isso guarda relações mais diretas com o confucionismo do que com as teorias do Capital de Karl Marx e seu manifesto comunista. Tanto isso é verdade que países como a Coréia do Sul ou Singapura, que se tratam de colônias estadunidenses totalmente liberais, apresentam respostas semelhantes às questões que envolvem o seu povo, como é o caso recente do enfrentamento ao coronavírus. Além disso, a China idolatrada pelos esquerdistas brasileiros é o país que tem o maior número de bilionários no mundo, todos atuando em sociedade com o Estado, em um país onde não existem sindicatos, legislação trabalhista, o tráfico de drogas pode ser penalizado com a morte e o homossexualismo é considerado uma doença, com o tratamento e a “cura” subsidiadas pelo governo contudo, faz planos para eliminar totalmente a pobreza extrema em seu território ainda neste ano de 2020. (“homossexualismo”, sim, referindo-se a um movimento político dedicado à promover a homossexualidade).

A esquerda liberal de mercado também tem começado a idolatrar o líder russo Vladimir Putin, depois de vários anos acusando-o de machista e homofóbico em função da propaganda feita no Ocidente das lacaias dos financistas globais, as Pussy Riot. De fato, a esquerda identitária não faz ideia de como funciona o partido nacionalista de Putin, o Rússia Unida, e o sistema atualmente vigente no país, que está longe de ser socialista ou comunista. Pelo contrário, o regime democrático russo contemporâneo é extremamente conservador e caminha à passos largos para se tornar um Estado ortodoxo cristão, o que informalmente já está estabelecido de fato, com absoluto controle da mídia, da internet e repressão de vozes oposicionistas, especialmente depois da expulsão de Jacob Rothschild e dos cartéis de bancos, em 2016.

Nesta mesma esteira, podemos mencionar outra referência fundamental frequentemente evocada por lacradores e bolsominions, que é Cuba. O regime político instalado após a luta revolucionária de Fidel Castro ao cruzar Sierra Maestra e depor a ditadura de Fulgêncio Batista sempre foi amplamente repressiva ao homossexualismo, o que se estende até os dias de hoje, tomando como exemplo a repressão violenta da parada gay de Havana em 2019. O tráfico de drogas também é passível da pena de morte desde 2013 e a maçonaria é uma inclinação religiosa amplamente difundida, assim como a santería e principalmente o catolicismo.

Permanecendo ainda na América Latina, a Venezuela de Chávez e Maduro é um país amplamente cristão. Ambos sempre se posicionaram duramente contra o aborto e abominam o homossexualismo em sua nação. O país com as maiores reservas petrolíferas do mundo há três décadas rasgou os manuais de bom mocismo pregados pela Anistia Internacional para as colônias da OTAN e possui uma milícia paralela ao exército com dois milhões de pessoas armadas com fuzis AK-47, com muita munição para defender o seu território com unhas e dentes do imperialismo estadunidense e europeu. Os venezuelanos reconhecem a si mesmos e se orgulham de serem um país que presa pelos valores da família tradicional. Nas eleições de 2018, Nicolás Maduro foi eleito no primeiro turno com 68% dos votos dos venezuelanos, defendendo ardorosamente a fé católica, sendo que, em 2013, em uma corrida eleitoral extremamente disputada, a insinuação de que o opositor Henrique Capriles era homossexual foi decisiva para a confirmação do chavismo pelo voto popular.

Em um último giro global, podemos analisar o que tem feito nos últimos anos o presidente da Hungria Viktor Orbán, chamado pelos plutocratas de Bruxelas de “ultradireitista” e de “ditador”, apesar de seus mandatos legitimados pelo voto popular, com campanhas exaltando os valores cristãos. O “extremista” húngaro nacionalizou bancos, estatizou empresas, aumentou os direitos trabalhistas, ampliou o acesso à educação pública, atendimento médico e odontológico, criou programas amplos de renda mínima e de assistência social. Com uma taxa de crescimento demográfico abaixo dos dois porcento, concedeu benefícios exclusivos à casais com filhos, o que lhe rende o rótulo de homofóbico. Da mesma maneira, criou um sistema de financiamento para reconstrução das cidades da Síria, do Iraque e do Líbano destruídas pelas guerras realizadas pelo Nobel da Paz Barack Obama e da feminista intereseccional Killary Clinton, buscando devolver imigrantes com qualificação técnica aos seus países de origem, o que tem lhe rendido acusações de “xenofobia”.

Retornando ao Brasil, cabe-nos lembrar que, em 2015, o “Congresso mais conservador da história”, presidido por Eduardo Cunha, aprovou a auditoria da dívida pública. Uma fraude financeira que massacra cotidianamente a vida de cada brasileiro e brasileira, drenando o orçamento da União para um cartel de bancos criado pelo lulopetismo. Contudo, a presidenta “guerreira” da nova esquerda, Dilma Rousseff, vetou a proposta, alegando “problemas técnicos”. Ou seja, você pode escolher qualquer bandeira, mas o jogo é bruto, é pesado, e política não é briga de torcidas, não é fla x flu. O que está em disputa são muito mais do que os dois lados da falsa oposição entre a esquerda e a direita do surrealismo fanático do bolsolulismo e, em defesa dos interesses do Brasil e de seu povo, existe um centro, um enorme centro, onde cabe todo mundo que não esteja defendendo única e exclusivamente os seus interesses mesquinhos pessoais.

Por Diogo Oliveira, antropólogo, em colaboração com Marcelo Pedro


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