A SUBALTERNIDADE DE HADDAD

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Por Milton Temer

A Marcos Lisboa é uma das razões da desconfiança política que por ele nutro. Licenciar-se da USP para ser professor do Insper, instituição privada que se locupleta em contratos com o MEC, dirigida por Marcos Lisboa não é um atestado de coerência com que já fez tese acadêmica, com leitura positiva sobre Marx. É sinal de rendição e cansaço ideológico.

NO JORNAL NACIONAL de ontem, assim como na sua coluna dominical na Folha, o indigitado patrão de Haddad levanta uma discussão sobre o Estado “que queremos”. De pronto fica a necessidade de determinar quem é o sujeito do verbo em pauta. na pirâmide social. E isto fica claro em outro parágrafo, quando Lisboa assume uma linha de defesa aberta da fórmula de acesso à barbárie social promovida pelo pacote de contra-reformas do não menos abominável especulador financeiro, Paulo Guedes, ora travestido em responsável direto pelo modelo macroeconômico anti-social e pró-grande capital.

“PODE-SE criticar o atual governo por muitas razões, mas não pela “obsessão” com austeridade”. afirma ele, numa omissão criminosa ao Teto de Gastos, à decomposição de Direitos Trabalhistas e às privatizações, numa mesma coluna em que trata Educação e Saúde públicas, não como investimentos, mas como gastos sociais. E entra na ladainha do “Erros de projeto ou de contrato são os responsáveis pela maior parte das paralisações de obras do governo federal, não a falta de dinheiro. Gastamos muito e gastamos mal”.

CONCORDO com o indigitado, mas faço eu a pergunta. Quem se beneficia com essa política segundo os balanços de faturamento e lucro do setor empresarial ? Ele não nomeia. Mas será preciso desenhar para constatar como se dão bem os banqueiros, os rentistas individuais, os desonerados de impostos, que ele elude ao classificar de desigual e regressivo o nosso sistema de impostos ?

O PROBLEMA, portanto, não é o Estado como ente isento e abstrato, o que é uma grande falácia, a ser minimizado para que haja redução de perdas.. O problema é a que segmento da população esse Estado vem beneficiando desde a instalação da dita Nova República, nos idos dos anos 80 do século passado.

IDEÓLOGOS do perfil de Marcos Lisboa, com grande audiência entre os maganos, se impõem exatamente por sua capacidade de fazer o discurso que interessa a A, mas que na essência favorece o seu contraponto social. Fazer o discurso demagógico de atender a luta contra a desigualdade, mas defender políticas que só radicalizam essa desigualdade.

LAMPEDUSA na sua magnífica obra “O Leopardo” é que os definiu bem no trecho em que seu personagem cínico não hesita. Propõe que se mude tudo para que tudo permaneça a mesma coisa, antes que os ofendidos de agora se dêem conta e tomem, eles, a iniciativa. Ou como afirmou um patriarca mineiro da Velha República, no fim da década de 20. “Façamos a Revolução antes que o Povo a faça”.

NÃO POR ACASO, esse ser desprezível navega em todos os terrenos de poder que se marcam por essa visão dissimuladora, que tenta conciliar interesses antagônicas entre opressores e oprimidos. De Lula a Bolsonaro, como membro da equipe de Palocci, ou agora como empresário da educação transformada em mercadoria, para ele é tudo o mesmo. Sempre na defesa do grande capital e da exploração radicalizada da mão de obra assalariada.

 


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