Como combater o social-liberalismo de direita ?

Foto por Marcelo Camargo.
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Por Eduardo Pessine, revisão de Flávia Nobre

Parece claro que a fórmula de sobrevida da República Rentista frente ao colapso econômico do ocidente será a adoção de um “social-liberalismo de direita”, liderado – ao menos por enquanto – por Bolsonaro, porém, mantendo suas diversas fragilidades políticas que, desde o início, o levaram à presidência. Esse social-liberalismo de direita é uma reformulação de sua versão de esquerda, criando uma base de massas atrelada aos programas sociais e na hegemonia cultural conservadora que se construiu nos últimos anos, alimentada pela estética liberal americanófila importada from United States do Partido Democrata.

Assim, o governo poderá ampliar os gastos dos programas sociais – que são, como já citamos anteriormente, o Renda Brasil, uma extensão do Auxílio Emergencial, o programa de geração de empregos de Paulo Guedes, associado ao novo Marco do Saneamento e à Carteira Verde e Amarela. Isso garantirá uma gestão da extrema pobreza através de uma renda mínima para que boa parte da população brasileira não morra de fome, e também estancará as brutais taxas de desemprego através da geração de empregos precarizados que, ao mesmo tempo, elevam as taxas de juros da multinacionais envolvidas na retomada das obras públicas.

Tudo isso poderá garantir, senão uma estabilidade à República Rentista, até mesmo uma reeleição de Bolsonaro em 2022 – o que é desnecessário, obviamente, já que os generais entreguistas e a classe dominante controlam diretamente o processo eleitoral, sendo necessário apenas a criação de uma “sensação” de possibilidade de vitória, tarefa fácil neste contexto e com a manipulação das redes sociais.

Em outras palavras, não haverá mais espaço para uma esquerda liberal cujo discurso gira em torno da nostalgia lulopetista e o moralismo cultural. O primeira será superado na gestão da pobreza com a ampliação dos programas sociais por parte de Guedes e Bolsonaro, o outro não poderá competir com a indústria cultural e a hegemonia conservadora criada nos últimos anos. Será necessária uma profunda renovação da esquerda para que ainda mantenha um papel político relevante – que vá além do cretinismo parlamentar e da reprodução dos mandatos.

Não há mais espaço para ilusões

O primeiro passo nesta tarefa é o abandono de toda e qualquer ilusão – sobre a realidade brasileira e o modismo acadêmico, tanto sobre uma suposta capacidade de superação da crise dentro do próprio sistema. O atual sistema político se esgotou, e está mais que clara a completa aversão do povo brasileiro às suas estruturas. Uma esquerda que se presta a defender a democracia em abstrato é cúmplice do rentismo e da sobrevida do atual sistema político.

É preciso disputar os rumos do Brasil: nos atuais moldes políticos e econômicos a República Rentista é insustentável, e os anos seguintes representarão sua reconfiguração. A ausência completa de um projeto nacionalista popular radical significará o aprofundamento da dependência como nunca antes visto, com a destruição do patrimônio nacional em grau inédito desde o período getulista. Sem um programa econômico que trate da raiz da dependência e da soberania, a civilização brasileira caminha ao abismo.

Também é preciso retomar as grandes narrativas e inserir na interpretação da política brasileira a totalidade da geopolítica e dos movimentos imperialistas – que são a representação mais extrema da luta de classes internacional. Com os anos do lulopetismo se abandonou completamente o anti-imperialismo, consolidaram análises insulares do contexto brasileiro, fazendo a esquerda atuar com uma profunda ingenuidade no âmbito internacional. É necessário um profundo debate sobre uma doutrina militar brasileira, cujo centro é o anti-imperialismo e a soberania tecnológica do Brasil e da América Latina.

A prática

Algumas destas tarefas são de longo prazo, outras nem tanto. Mas é necessário, no atual momento, atuar na fraqueza da República Rentista, que é o fraudulento esquema da dívida dita “pública” – exigindo uma auditoria cidadã não apenas visando uma redução do seu montante, mas como subsídio à punição dos fraudadores, que incluem os grandes banqueiros internos anti-nacionais. A partir daí, se abrirá as portas para a estatização do sistema financeiro e o fechamento das contas de capitais.

A dependência em relação aos programas sociais abre espaço para uma pressão desestabilizadora por sua ampliação irrestrita: se Guedes e Bolsonaro oferecem 600 reais, a esquerda deve dobrar, triplicar, quadruplicar a aposta. A própria aprovação do Auxílio Emergencial e da liberação de trilhões aos bancos mostram que não falta dinheiro. Uma esquerda verdadeiramente comprometida com o povo deve deixar cada vez mais cara a gestão da pobreza conforme organiza a classe trabalhadora. A atual “oposição” fez o oposto: barateou o auxílio “pressionando” o governo por míseros 600 reais.

Em resumo, a esquerda passa por uma encruzilhada: ou abandona suas ilusões (e os benefícios financeiros que as acompanham) ou será cada vez mais irrelevante no cenário político.

Com informações Nova Margem


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