Sobre os “novos” cheques de Queiroz para Michelle Bolsonaro.

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A manhã desta Sexta-Feira começou com a notícia de novas descobertas a respeito de mais cheques enviados de Fabrício Queiroz para a esposa de Jair Bolsonaro, Michelle Bolsonaro. O conteúdo dos debates segue sendo o tal esquema das rachadinhas envolvendo pessoas ligadas ao gabinete de Flávio Bolsonaro que teriam devolvido parte de seu salário, que passaria por Queiroz e seria retornado à família do presidente. Este texto se propõe a compreender essa notícia nova no arranjo da política brasileira, posto que todo novo fato divulgado pela grande mídia cumpre um papel na ecologia política.

Antes de tudo, é preciso esclarecer o que talvez todos já saibam: o esquema de rachadinha não é algo inerente apenas à família Bolsonaro (caso se comprove o crime), posto que é um “modus operandi” bastante frequente, não só na ALERJ como muito provavelmente em várias Assembleias Legislativas do país. Sendo um hábito da política, o de utilizar funcionários-fantasmas e o de captar parte do salário de funcionários, é provável que o hábito possivelmente adotado por Flávio Bolsonaro tenha sido herdado do próprio pai. É justamente esse processo que faz de Fabrício Queiroz um potencial tesoureiro “underground” da família Bolsonaro, que capta o dinheiro devolvido pelos funcionário e devolve à família, fato que se encontra no centro da polêmica trazida pela questão dos cheques.

A respeito do significado político dessa notícia vir à tona exatamente agora, cabe afirmar que a primeira função poderia ser a de criar cortinas de fumaça para encobrir a impopular reforma tributária de Paulo Guedes e também o pacote de privatizações que o Ministro da Economia já anunciou, mudando para a chave da moralidade anticorrupção debates que poderiam ganhar caráter político inflamável, uma vez que cruza com o interesse econômico do brasileiro. Além disso, essas notícias mantém as discussões, tal qual a manutenção do noticiário falando da Operação Lava-Jato, no campo do juridiquês, fazendo da “justiça” o principal ator da política brasileira, despolitizando o conteúdo do debate público (ao judicializá-lo). Também é importante notar que a sobrevida do lavajatismo mantém a figura de Sérgio Moro como um dos atores centrais da política, uma vez que a sobrevida da Lava-Jato é a sobrevida de Sérgio Moro, que está se apresentando como um presidenciável.

É importante frisar que a matéria sobre os “novos” cheques enviados à Michelle partiu da Revista Crusoé, grupo que tem como um de seus colunistas o próprio Sérgio Moro, principal interessado em manter vivo o sentimento justiceiro lavajatista no Brasil. Fato esse que também nos conduz ao mesmo “modus operandi” de sempre: construir um cenário no qual todos os caminhos estejam dominados pela direita política, com Bolsonaro como situação e com Sérgio Moro como oposição, o que mantém o campo popular fora de qualquer possibilidade de gerar uma força aderente no debate público. É justamente essa a cilada da despolitização e judicialização da política, a de reforçar o justiçamento como substituto da política e como herói salvador que vai resolver todos os nossos problemas.

Um efeito sobressalente, e muito provavelmente o motivo primeiro para o disparo dessa notícia, é o de manter Bolsonaro sob certa rédea curta em função de crimes que podem envolver a sua família e do seu possível passado de ilicitudes, distanciando o ex-capitão de qualquer possibilidade de política autoral (e isso não quer dizer que, agindo de maneira autoral, ele fosse fazer algo diferente do que está fazendo). A questão aqui é manter o presidente cumprindo o papel que lhe foi designado pela elite que o colocou no poder, que é quem deve deter segredos e dossiês do presidente para mante-lo agindo dentro do script que lhe foi determinado. Cabe perceber que é rotina a elite, e até grupos políticos próximos ao Jair, utilizar a grande mídia para promover freios aos ímpetos bolsonaristas, sobretudo após o cenário dos últimos dias, no qual vimos um Bolsonaro se lançar em uma aventura populista ao falar de auxílios e renda-básica. Além disso, cabe lembrar que Bolsonaro também protagonizou um balão de ensaio ao vazar uma matéria na qual ele se apresenta como alguém querendo fechar o impopular STF, adotando a política do “vai que cola” e utilizando isso como ferramenta para dobrar a pressão sobre um Poder que já tem um militar (a auxiliar de Toffoli) como guia.

Diante desse cenário, não é improvável que setores da elite, e até os próprios generais, tenham lançado mão de fragmentos do passado de Flávio Bolsonaro para restringir o ego do presidente e também para lembra-lo de seu papel de boneco dos interesses das elites. Diga-se de passagem, o mesmo setor que vazou o interesse de golpear o STF, como balão de ensaio para medir a popularidade do ato e para coagir o Judiciário, pode ter sido o que autorizou a matéria sobre os cheques da esposa do presidente. Ao fazer isso, se mantém tudo sob controle e os poderes que governam a nação seguem na penumbra em meio a um ambiente onde o aparente caos discursivo e político parece imperar, mesmo que a governabilidade siga garantida. O desgaste contínuo dos elementos políticos garante que nenhuma força sobressaia, mantendo o golpe em pleno curso.

Com informações Verdade Concreta


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