O PIB brasileiro despencou 10% e o salário mínimo está congelado no Brasil.

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Por Thiago Espindula

Nos últimos dias, algumas notícias tem revelado o estado de completa decomposição da economia brasileira, revelando que, no impasse entre combater a pandemia e desenvolver a economia, acabou-se por não cumprir nenhuma agenda, uma vez que o país amarga uma queda vertiginosa das condições econômicas de vida dos brasileiros e um avanço do covid-19, que já matou mais de 120 mil pessoas no país. Inclusive, é importante perceber que, embora o sistema político tenha tentado simular uma disputa entre presidente e poderes regionais em torno da questão do combate à doença, quase nada foi feito no que tange a um combate efetivo na saúde e muito menos na manutenção das atividades econômicas. Nesse ponto, tudo não passou de um impasse teatral, entre poderes locais e Bolsonaro, para mascarar a existência de um sistema político que não tem encontrado saídas para os atuais problemas sociais e econômicos do país.

O primeiro fato que trazemos para a discussão é a divulgação dos dados a respeito do comportamento da economia no segundo trimestre de 2020, que demonstraram que o Produto Interno Bruto brasileiro encolheu 10% em relação ao primeiro trimestre de 2020 e quase 12% em relação ao segundo trimestre do ano passado. Constituindo o PIB a riqueza produzida pelo país, fica patente que a economia brasileira está retraindo de maneira bastante acelerada, sendo que é um país que já vinha tentando sair de uma crise, o que significa que o governo Bolsonaro tem conseguido depreciar uma situação que já não era boa, piorando ainda mais o desempenho da economia. Os dados demonstram que o consumo no Brasil caiu 12% e o investimento despencou 15%, revelando que a queda do poder aquisitivo das famílias, somada à falta de projeto econômico do governo, leva a uma situação na qual os brasileiros estão temerosos em relação à economia e preferem promover gastos prudentes.

Diante dessa crise instalada, há quem busque defender o governo, argumentando que a queda dos indicadores econômicos são culpa da pandemia e não das ações de Bolsonaro. Sobre isso, é preciso dizer que, em 2019, o país já apresentou um crescimento de PIB que precisou ser esticado e muito propagandeado para chegar no 1% de crescimento (menor ainda que o de Temer). Além disso, a fuga de capitais estrangeiros da bolsa de valores brasileira também demonstrou que o país não tem sido atrativo nem para os interesses que alavancaram a vitória de Bolsonaro, que é o capital transnacional (situação que só pode ser controlada porque a derrubada dos juros tem empurrado o investidor brasileiro para cobrir o buraco da saída de capitais externos). Esse movimento de fuga de capitais estrangeiros é o que justifica a alta brutal do dólar nos últimos anos e os subsequentes movimentos do Banco Central queimando reservas internacionais para controlar a sua subida, eventos que demonstram que a economia nacional já não vinha sendo atrativa e pulsante nem antes da pandemia (sendo o Real uma das moedas que mais desvalorizam no mundo nos últimos tempos). Também não podemos deixar de registrar que o desemprego persiste no país e que as atividades informais e o subemprego também crescem de maneira acelerada, muito embora o pessoal do mundo corporativo faça questão de chamar isso de “empreendedorismo”.

Enquanto isso, na contramão da atividade produtiva, o setor dos bancos tem mantido seus lucros estratosféricos, mesmo em meio à crise brasileira, demonstrando que está havendo uma destruição do setor produtivo e um sequestro de capitais que rumam para o setor financeiro, destruindo empregos bem remunerados e a capacidade de crescimento econômico do país. Não à toa, o governo prefere promover todos os cortes, sobretudo no bem-estar social, que lhe são possíveis, desde que isso não afete o pagamento sagrado dos juros aos interesses financeiros que drenam anualmente o orçamento brasileiro, dissipado em atividades improdutivas (e que nada acrescentam ao povo brasileiro).

Outro fato que ganhou volume no noticiário foi a proposta de reajuste do salário mínimo, para 2021, por parte do governo Bolsonaro: o salário, que hoje é de R$ 1.045,00, subirá R$ 20,00 a partir do próximo ano. Se colocarmos esse fato diante do aumento de 10% do custo da alimentação, elemento que drena quase todo o salário dos trabalhadores mais pobres, perceberemos que a tendência é de que o poder aquisitivo da classe trabalhadora fique reduzido por mais um ano, posto que Michel Temer também já não vinha dando aumentos reais no poder aquisitivo do salário mínimo. Lembremos que os generais estão discutindo a possibilidade de acumular vencimentos e ultrapassar o teto de salários para poderem abocanhar mensalmente milhares de reais por mês, enquanto o trabalhador definha com um aumento de 20 reais mensais (valor que compra, quando muito, 1 kg de carne de segunda).

Para distrair de toda essa decadência econômica, Bolsonaro resolveu anunciar que irá prolongar o auxílio emergencial por mais 4 meses, pagando um valor de R$ 300,00 mensais, mantendo a lógica de disponibilizar um prato de ração na porta dos brasileiros mais pobres enquanto as camadas médias e trabalhadoras veem suas condições de vida virarem fumaça em meio à falta de propostas de Paulo Guedes no contexto de crise econômica. Como já disse anteriormente aqui no canal, não demorará muito para que todos os brasileiros se vejam na condição de ter que precisar de um pote de ração na sua porta também, e não será absurdo imaginar que talvez o governo venha a propor que devemos ser gratos ao mesmo sistema político que destruiu a economia e colocou todos na condição de depender de uma renda do governo.

Por fim, cabe ressaltar, para aqueles que, por ventura, vierem a dizer que essa é uma situação análoga à do Bolsa-Família proposto por Lula, que a situação é absolutamente oposta, uma vez que o governo Lula ampliou o emprego e a renda no Brasil, fazendo com que trabalhadores e classe média pudessem também ampliar a sua renda, mantendo o auxílio para aqueles que ainda não conseguiam ser absorvidos pelo sistema. Enquanto isso, o governo Bolsonaro lança mão da continuidade dos auxílios e da possível proposta de uma renda mínima como bengalas políticas, posto que não apresenta qualquer proposta para o crescimento da economia, e é justamente por isso que o programa tende a criar percepções diversas sobre a situação brasileira: alguns brasileiros se verão saindo de uma condição miserável para uma condição mínima de vida; enquanto outros se verão despencando para a condição de necessitar de auxílios. Nessa conjuntura, haverá clivagem e luta dentro da sociedade, diante da qual Bolsonaro tentará criar uma base política que o defenda perante as críticas daqueles que, com certeza, estarão percebendo que a economia nacional está sendo destroçada. Politicamente, e no curto prazo, a jogada é habilidosa, embora tenda a se tornar uma catástrofe econômica de longo prazo.

A seguir, vídeo discutindo o assunto abordado no texto.

Com informações Verdade Concreta


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